terça-feira, 30 de março de 2010

Porque Clusters Criativos?

Os principais "culpados" pela escolha desse tema são: Pierre Lévy, Steven Johnson, Jaime Lerner e Augusto de Franco. Tive a incrível oportunidade de ouví-los na Conferência Internacional de Cidades Inovadoras que aconteceu em março na cidade de Curitiba, para conhecer melhor os incríveis palestrantes e temas abordados, segue o link: http://www.cici2010.org.br/

Para entender um pouco do que foi discutido durante a Conferência segue abaixo uma 'síntese' de tudo que anotei, conceitos que foram essenciais para a definição do meu tema.


NECESSIDADES
É preciso entender o que acontece nas cidades, quais são as tendências, o que elas realmente precisam, o que a população necessita.

DEMOCRACIA DA INFORMAÇÃO
Atualmente é preciso haver uma democracia nas cidades, pois tudo começa nas cidades, porém, atualmente estamos presos em instituições verticais (hierarquia). Entretanto as cidades devem ser ágeis, em suas regulamentações, devem ser educadoras, devem ser abertas, e agir em redes. As regulamentações devem ser o máximo possível executadas localmente para que seja facilitado o controle, as práticas sustentáveis ficam mais fáceis de serem executadas se em pequena escala.



COMPARTILHAMENTO INTERPESSOAL
Precisamos de acessibilidade – em todos os termos da palavra. Precisamos construir cidades inovadoras, que por sua vez precisam de pessoas empreendedoras, que criem suas próprias carreiras, precisamos de compartilhamento de informações e de conhecimentos. Quais atitudes temos que tomar para desenvolvermos novos talentos nas cidades?

CONEXÕES
Atualmente o Brasil é o 9° país mais desigual, o que podemos fazer para melhorar esse índice? Precisamos desenvolver novos talentos, precisamos de igualdade em diferentes termos, não apenas econômicos, precisamos criar hub’s (conexões) criativas. Precisamos levar em consideração o valor do intangível nas cidades, as pessoas incluem-se nisso, as cidades são feitas de pessoas, portanto o valor das cidades é medido por sua população, precisamos investir na população, precisamos conectá-las, informá-las, criar uma dinâmica interpessoal.

SINGULARIDADES
Podemos dizer que cidades de médio porte sofrerão as maiores alterações em termos de migração, pois possuem - em sua maioria - centralidade econômica regional, dinâmica própria, não tem os problemas das grandes, nem a falta de recursos das pequenas, possuem sociedades mais engajadas e apropriadas, por viverem a cidade numa escala reduzida. Além disso elas são responsáveis por estabelecer pontos e conexões entre pequenas e grandes cidades, possuem maior valorização local e olhar global, a população valoriza o passado e se preocupa com o futuro e tem uma relação estreita com a cidade, seus mapas geográfico, mental e emocional são diferentes para cada habitante. É necessário desenvolver espaços que permitam um NOVO MODELO URBANO que valorize essas singularidades, permitam um desenvolvimento inclusivo e estimule as sinergias dentro e fora da região.

ENGAJAMENTO
Cidades criativas são sensoriais e surpreendentes, mudam constantemente, percebe e valoriza suas singularidades. Precisamos entender o que torna o território especial. Para isso precisamos que existam conexões de idéias, de espaços, conexão da sociedade civil. Sabemos que governanças políticas mudam constantemente, portanto, precisamos de um engajamento da sociedade civil para manter vivas as idéias, programas e políticas que beneficiem a população, precisamos estimular os sonhos coletivos.

PROBLEMAS x SONHOS
Sabemos que as cidades possuem inúmeros problemas, muitas vezes as políticas e programas visam somente resolver esses problemas identificados, porém, mesmo resolvendo essas situações muitas vezes ainda não teremos a cidade que sonhamos, entendendo isso, percebemos que devemos ir além, precisamos mudar nossas perguntas para que mudem também as respostas. Como deve ser a cidade que sonhamos? Quais são nossos sonhos?

VER O TODO
Devemos enxergar a cidade como um todo. Identificar os problemas na cidade, e fazer o governo saber disso. Mudar a relação de baixo para cima e de cima para baixo, tornar tudo isso mais horizontal e menos vertical. Fazer os cidadãos perceberem que realmente “pertencem” a cidade e de que a cidade “pertence” a eles, só assim teremos um envolvimento completo por parte da população x governo e do governo x população. Necessitamos de uma gestão compartilhada, aumentar a relação do contexto local.

DIVERSIDADE
Em ecossistemas inovadores, o adjacente se torna possível. Moléculas diferentes se unem para formar algo diferente. Como exemplo temos os recifes de coral, o paradoxo de Darwin nos diz que “cidades são oceanos”. Os corais possuem grande diversidade sem muitos nutrientes disponíveis, a superfície da Terra é coberta em 1% por recifes de coral, e 25% das formas marinhas vivem nos corais. Como é possível essa diversidade, como conseguem apoiar tudo? Sua própria diversidade biológica é capaz de suprir isso. Assim são as cidades, entendemos portanto que deve haver um conexão entre as partes para formar um todo saudável, cidades devem se comportar como redes, onde hajam trocas constantes.

PLATAFORMAS DE COLISÃO
Novas configurações de neurônios formam-se através de processos de colisão. Precisamos definir ambientes em que as novas configurações possam ser estimuladas, com colisão de pessoas, consequentemente colisão de idéias, trocas saudáveis. Precisamos aumentar as redes e criar novas configurações, possibilidades maiores de encontrar “a pessoa certa” ao acaso. Precisamos de espaços, de momentos multidisciplinares, trocas de informações e novas perspectivas. Reciclar idéias e cultivar o conceito de colaboração, de compartilhamento e não somente de “proteção de direitos autorais”, é daí que vem a inovação. Precisamos de cidades como plataformas, comparar dados das cidades, distribuir e deixar-se reciclar, repensar, reconstruir pela população. Disponibilizar dados de forma que possam ser compartilhados, para se ter novas idéias. É necessário obtermos uma combinação das tecnologias, com uma correta gestão das informações. Juntar esforços, descobrir melhores práticas, conseguir ver!

RELAÇÃO ↑↓ E ↓↑
Obter informação já faz parte do mecanismo, precisamos saber como utilizar – resolver! Precisamos de melhores interfaces das relações de cima para baixo (hierarquias). Precisamos de um conceito como o serviço 311 nos EUA, onde a população pode relatar problemas que não exigem emergência, mas que devem ser resolvidos, muitas vezes a população consegue enxergar muito mais facilmente que os governantes o que precisa ser feito, assim mudamos as relações, os cidadãos se sentem mais donos da cidade e cria-se um painel vivo dos problemas.
A partir dos problemas relatados pela população, programas podem ser criados pela governança. Este é um bom exemplo da relação de baixo para cima que ajuda quem vem de cima para baixo.

PÚBLICO
Nas cidades vivemos grande parte de nosso tempo em público, precisamos também de espaços de trabalhos, de relações que sejam mais colaborativos, que não sejam tradicionais. Precisamos enxergar as cidades como mecanismos de armazenamento e compartilhamento de informação.

ALTERAÇÕES
Atualmente 53% das cidades possuem de 100 mil a 500 mil habitantes cada (médio porte), essas sofrerão as maiores alterações nos próximos 10 anos, precisaremos nessas cidades de uma maior integração e descentralização dos serviços, visão do todo com criatividade, colaboração, uso adequado de TIC’s, fortalecimento das redes sociais.

REDES SOCIAIS
As redes sociais formam-se num 3º local, não é em casa e nem no trabalho, são locais que estabelecem limites entre o público e o privado. Porém, esses 3º locais precisam de uma inovação emergente, precisamos de plataformas abertas, onde qualquer um consiga obter informações, alterar, acrescentar. Precisamos mudar para obter essa inovação, mudar a mentalidade individual, a ação das pessoas, as barreiras culturais, as barreiras do sistema e nossa visão do futuro.

COMUNICAÇÃO
Na evolução da comunicação podemos perceber que a cada inovação íamos obtendo novas formas de acumular conhecimento e informação, uma maior democracia dos dados e disseminação de idéias. Atualmente estamos no início de uma nova etapa da mídia e do conhecimento humano, na manipulação dos símbolos – de forma digital. Obtendo um aumento cognitivo ainda maior. Hoje todos os documentos e símbolos são interconectados diretamente ou indiretamente. Temos um documento único feito por todo o planeta – disponível quase que de graça. Como serviços digitais podem mudar o futuro das cidades?

CULTURA DA INFORMAÇÃO
Ainda não possuímos uma forma política que combina com a nova cultura da informação e cognitiva. Quanto mais pudermos compartilhar e aplicar o conhecimento em locais contextualizados, mais teremos o poder, depende de pensarmos juntos, de uma inteligência coletiva, o uso da inteligência e das novas ferramentas na nova esfera pública.

OS PAPÉIS ESTÃO MUDANDO
Hoje a esfera pública pode ser considerada global, portanto temos que pensar e ser global, ainda somos pessoas com “pés” no mundo real. A antiga esfera pública era elitista, quem poderia se expressar em público? Os jornalistas, os autores, escritores, não havia democracia das informações, entretanto, nos dias de hoje qualquer pessoa pode fazer um discurso em público – em blogs por exemplo. A comunicação não é de pessoas para as massas, mas de todos para todos, não há mais barreiras editoriais. Os papéis na comunicação estão mudando, qualquer um pode ser crítico, autor, leitor e todos contribuem para a organização dos dados – são bibliotecários.

TRANSPARÊNCIA
Tendemos para um governo de maior transparência, hoje os dados públicos são realmente publicados, há pressão dos cidadãos. Precisa haver uma transparência dos três poderes, reengenharia dos órgãos públicos, temos hoje uma cidade virtual x cidade atual/real. Temos uma enorme quantidade de dados digitalizados. Pensar a cidade como rede de redes.

TROCAS
Cidades inovadoras são redes abertas e nichos de trocas ao mesmo tempo. Possuem liberdade e diversidade, iniciativas, dimensão intercultural e internacional, boa educação. Locais de encontro e de oportunidades de encontros.

BOAS PRÁTICAS
No Brasil podemos citar como um bom exemplo de urbanidade, de cidade inovadora e conectada, Curitiba, que hoje é sede do CIFAL – Centro Internacional de Formação de Autoridades Locais – um centro que se destina ao fomento de núcleos regionais descentralizados de capacitação, treinamento e difusão em gestão urbana, constituindo uma rede de informações para a troca de experiências entre cidades dos diversos continentes que tenham avançado em práticas e tecnologias relacionadas ao desenvolvimento sustentável. Sabemos também que Curitiba possui o IPPUC – Instituto de Pesquisa e Planejamento – com a missão de coordenar o processo de planejamento e monitoramento urbano da cidade, compatibilizando as ações do município com as da região metropolitana em busca do desenvolvimento sustentável, por meio do desenvolvimento de planos e projetos urbanísticos alinhados ao plano diretor. Todos esses órgãos, e vários outros, é claro, foram e são responsáveis por terem colocado e manterem Curitiba como cidade exemplo para o mundo, precisamos compartilhar dados de cidades como essa para nos desenvolvermos de forma consciente precisamos de atores locais comprometidos com os diversos ideais para inovarmos.

QUAIS SÃO NOSSOS SONHOS?
Precisamos pensar local para agir globalmente, precisamos de atores locais comprometidos, para isso precisamos de um centro, um espaço que forme esses cidadãos que permita o encontro deles, para que as relações se alterem (hierárquicas), para que a população em geral e os especialistas trabalhem juntos, um espaço que permita o trabalho em plataforma aberta, onde seja possível uma gestão da informação mais inteligente. Precisamos de pensadores envolvidos de forma menos política e mais social com a cidade, especialistas e população em geral, compartilhando e trocando experiências, pensando e agindo em rede, engajadas por um único ideal, poder responder: QUAIS SÃO NOSSOS SONHOS PARA A NOSSA CIDADE?

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